Jorge Bastos Moreno
Palácios sempre foram sinônimo de mordomias e festas. No dia a dia não é tão bem assim. Jânio Quadros, a quem entrevistei, antes da anistia, com o compromisso de não perguntar nada sobre a renúncia, acabou desabafando: "Eu não aguentava a comida daquele palácio. Comia-se muito mal ali: um bife, arroz, feijão e ovo."
Na primeira vez que Sarney abriu o Alvorada para um almoço com jornalistas, serviu-se uma rabada com polenta. Meus colegas adoraram, mas outros não gostavam do prato.
Quando marcou, com um mês de antecedência, um almoço com Ulysses Guimarães no Alvorada, Collor não imaginou que a data coincidiria com a explosão da entrevista-denúncia do irmão Pedro. Todos associaram a visita de Ulysses a um conselho para o presidente renunciar ao mandato.
Na saída do Alvorada, um batalhão de repórteres e uma pergunta em coro:
— Como foi o almoço?
— Uma droga. Como se come mal neste palácio! — reclamou Ulysses.
No governo Fernando Henrique, piorou. O presidente resolveu botar no cardápio o símbolo do real: o frango, grelhado, seco e insosso, até que um dia um dos seus importantes comensais, Luís Eduardo Magalhães, reclamou pelos jornais:
— Eu não aguento mais ver frango na minha frente.
Em vez de mudar o cardápio, FH tentou mudar de casa. Promoveu uma reunião na casa do vizinho e vice Marco Maciel, no Palácio Jaburu. Serra, presente, saiu de lá xingando:
— Aqui é pior, me serviram um passarinho. Eu não como passarinho, ainda mais queimado.
Serra estava se referindo a codornas assadas. Depois disso, o presidente resolveu recorrer aos serviços da chef Roberta Sudbrack.
Lula mudou o cardápio, mas a melhor comida passou a ser a da Granja do Torto, onde às vezes o próprio convidado, como aconteceu com o ex-deputado Sigmaringa Seixas, tem que correr à noite de lanterna para caçar um pato. Churrasco passou a ser o prato principal. Mas há risco de o convidado chegar lá num dia em que o dono da casa acordar invocado e resolver pescar um pacu do seu próprio tanque. Aí é de matar. Pior do que um pacu de tanque, gordo e com gosto de barro, só mesmo uma colher de Emulsão Scott, aquele remédio à base de óleo de fígado de bacalhau.
De todos os inquilinos do Alvorada, pós-ditadura, o único que sabe cozinhar é mesmo o Lula. Antes de assumir, Lula costumava fazer altos banquetes no seu sítio no interior de São Paulo, graças a um fogão a lenha que ganhou de presente do restaurateur Jorge Ferreira, de Brasília.
— Eu faço uma galinha caipira com polenta como ninguém nunca fez antes neste país. O charme é você cortar a polenta com fio de barbante — costuma dizer Lula.
Publicado no Globo 16/09/2010
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